segunda-feira, 14 de setembro de 2009

CARTA DE APRESENTAÇÃO DO PRÓ-COLETIVO ANARQUISTA ORGANIZADO DE JOINVILLE.

“...a verdadeira anarquia não pode existir fora da solidariedade, fora do socialismo.”

Errico Malatesta

“A idéia e ação são inseparáveis, se a idéia tem ascendência sobre o indivíduo; e, sem ação, a própria idéia atrofia-se”

Piotr Kropotkin

“Há ocasiões em que é melhor lutar e apanhar do que fugir à luta.”

George Orwell

“A igualdade perante a lei é uma farsa, queremos a igualdade social. Queremos oportunidade para todos, não para acumular milhões, senão para fazer uma vida perfeitamente humana, sem inquietudes, sem sobre-saltos pelo futuro” Ricardo Flores Magón



O presente documento é a primeira produção publica do “Pró-CAO” (Pró – Coletivo Anarquista Organizado) de Joinville, Santa Catarina, no qual buscaremos apresentar o nosso projeto de construção de uma organização política anarquista com programa ideologicamente revolucionário.


Nos inserimos na realidade da crise global do sistema capitalista, em que os argumentos que abordam essa realidade não apontam à estrutura do sistema, e os Estados são os mecanismos para regulamentar a manutenção da ordem econômica e as supostas saídas da crise, enquanto a classe trabalhadora empregada e desempregada paga com mais exploração e sofrimento.


Pensamos a estrutura global vinculada com a realidade de Joinville, onde os reflexos são percebidos nas fábricas, com aumento do desemprego, enquanto os sindicatos não sabem, ou não querem saber como resistir às demissões, e assim acabam assumindo os discursos empresariais ou jogando a responsabilidade da apatia à classe trabalhadora.


A faixa-etária mais jovem da população, a cada dia mais longe da realidade de um futuro, tem seus sonhos direcionados ao consumo, muitas vezes de produtos nocivos a si mesmos, enquanto que as políticas públicas municipais, estaduais e federais para resolver tais problemas são unicamente tapa buracos e não um olhar profundo e radical para solucioná-los. Podemos perceber a incapacidade do Estado de lidar com tais problemas através das medidas que dificultam a livre circulação da juventude, bem como de toda a população não-rica, por meio dos aumentos das tarifas do transporte coletivo, a manutenção do transporte na perspectiva privada e a possível proibição dos jovens menores de dezoito anos de circularem nas ruas centrais depois de determinado horário. Na verdade, nessas situações percebemos a real função do Estado, de opressor e cão de guarda dos detentores do capital.


Por estes e muitos outros motivos, pensamos que o atual modelo de democracia representativa, onde os “eleitos do povo” aumentam os próprios salários e suas próprias regalias a seu bel prazer nunca foi, não é e nunca será capaz de agir em prol das camadas economicamente mais baixas da população, entendendo que o baixo poder econômico carrega o sujeito ao baixo poder político de acordo com a atual lógica representativa, além é claro de várias outras prerrogativas discriminatórias que levam a perda, ou redução do fazer política, como o fato de ser mulher, étnico, usuário de droga, e de orientações sexuais diversas.


Propomos o Coletivo Anarquismo Organizado como uma alternativa de “fazer política” sem estar necessariamente ligados à partidos políticos institucionalizados, que acreditam que política é feita apenas ou majoritariamente no parlamento. Negando esta perspectiva, afirmamos que a verdadeira política é aquela que emana diretamente do povo.


O descontentamento com a realidade social, com a perpetuação do Estado, do sistema capitalista e reconhecendo impossibilidade do domínio autoritário e explorador de pessoas por pessoas, nos traz a necessidade de caminharmos rumo a uma organização anarquista, visando desenvolver coletivamente um programa político anarquista revolucionário para a realidade do lugar que vivemos e somos explorados. Ao mesmo tempo, buscamos uma aproximação com outras organizações que tenham perspectivas e finalidades convergentes com as nossas no território brasileiro e também no restante do globo, tentando estabelecer uma troca efetiva das experiências nas lutas de classes para superação do capitalismo e do Estado, incentivando a organização popular, pois somente assim poderemos superá-los.


A nossa visão é de um anarquismo organizado politicamente e na militância social, inserido até a medula nos movimentos sociais, organizações populares, movimento estudantil e nas entidades, sempre buscando construir lado a lado, jamais dirigindo como habitualmente a esquerda tradicional e institucionalizada realiza nas lutas sociais, ou tendo qualquer atitude vanguardista, como desejam certos teóricos.


Amparados na visão, que reconhecemos, ainda terá de ser aprofundada, entendendo que a humanidade não se corrompeu apenas na sua direção econômica, logo a luta não deve se prender apenas à ela, como se fosse uma resolução binária encerrar o conflito patrão/empregado, pretendemos a construção do anarquismo vinculado ao: socialismo, a luta de classes além da classe econômica, federalismo, liberdade, organização, autogestão e anti-estatismo.


Buscando sempre a construção coletiva com os demais anarquistas cuja convicção seja de acordo com o ponta pé inicial discorrido na corrente carta de apresentação, entendemos que para construção de uma organização que mantenha essas propostas é necessário tempo, trabalho e experiência, acreditamos ser muito importante aliar teoria e prática com a realidade social e política de nossa cidade. Esse é o objetivo do Pro-CAO, ser a alicerce de uma futura organização comprometida com o Socialismo Libertário.


Pró – Coletivo Anarquista Organizado de Joinville

anarquismo.jlle@gmail.com