quinta-feira, 22 de abril de 2010

Algumas opiniões críticas sobre o sistema de transporte de Bogotá “Transmilenio”*

Muito se tem falado das vantagens/benefícios do sistema de transporte “Transmilenio” de Bogotá, ressaltando sua eficiência, sua administração exemplar, sua pontualidade nos serviços, sua rapidez e grande contribuição à circulação dos mais de 8 milhões de pessoas que vivem na capital colombiana. Contudo, estas são meias verdades, dado que os grandes meios de comunicação em nível nacional e internacional não mostram alguns pontos críticos deste sistema, tais como:

  • Transmilenio foi criada mediante o Acordo 4/1999, através do qual se autorizou à administração a construir uma sociedade anônima de caráter/fim/ânimo comercial com financiamento de entidades públicas distritais. O projeto inicial definia que a infra-estrutura seria construída e mantida pelo Estado, enquanto que a operação e prestação do serviço de transporte coletivo estaria a cargo de empresas privadas de transporte. Ou seja, é um sistema onde o Estado constrói a infra-estrutura com os impostos de todos os cidadãos, para que o interesse privado (representado em certos grupos investidores) obtenham todos os lucros. É um de esses casos onde os governos fazem todo o possível para dar facilidades ao capital (neste caso nacional e estrangeiro) para que venha aos nossos países, invistam e levem todos os lucros fruto da prestação de um serviço público, como é o de transporte.
  • Como o fim dos investidores que estão atrás do sistema Transmilenio é aumentar ao máximo seus benefícios econômicos, o sistema mantém uma tarifa única para toda a população (1.600 pesos colombianos para o ano 2010, algo como R$1,5), sem oferecer descontos a estudantes, pessoas com deficiência o idosos; o que o converte em um sistema excludente para aquelas pessoas que não têm a capacidade de pagar a totalidade da viagem. Isto resultou que muitos estudantes (que não tem renda para pagar uma tarifa tão cara) preferiram ingressar no sistema Transmilenio de forma ilegal, colocando em risco suas próprias vidas. O caso mais recente se apresentou no dia 15 de abril de 2010, quando dois estudantes de um colégio morreram depois de ser atropelados por um ônibus da Transmilenio quando tentavam ingressar o sistema sem pagar. Casos como este se repetem todos os dias.
  • O sistema Transmilenio – que projeta monopolizar todo o transporte público de Bogotá – não consegue satisfazer plenamente a grande demanda que exige uma cidade destas dimensões. Por isso que o sistema entra em colapso, que o número de ônibus seja insuficiente e que a grande quantidade de pessoas se aglomeram nas estações.
  • Uma das principias críticas apontadas a este sistema é que oferece um serviço altamente incômodo a seus usuários, já que a quantidade de usuários é tão grande (como também a avareza de seus investidores) que enchem ao máximo os ônibus em cada uma de suas viagens. Isso têm gerado problemas de insegurança dentro dos próprios ônibus e situações de desconforto para pessoas que viajam com crianças, para deficientes físicos e idosos.
  • Em função de que o sistema Transmilenio tem aumentado sua renda depois de atender a milhares e milhares de pessoas todos os dias, todo o dia, as tarifas do serviço aumentam arbitrariamente sem nenhuma argumentação sólida por parte da administração e as diretivas.
  • Devido à alta velocidade na qual viajam os ônibus do sistema Transmilenio (por ter uma pista própria para sua circulação) constantemente se apresentam acidentes de trânsito com outros ônibus do sistema, com veículos particulares ou se atropelam pedestres desprevenidos.
  • Por último, é importante mencionar a contribuição de Transmilenio aos processos de contaminação atmosférica, ao utilizar motores a diesel. A quantidade de ônibus utilizados, somado à extensão do Transmilenio às principais vias da cidade fazem com que aumente a quantidade de partículas (PPM) e gases emitidos por fontes móveis.

Estas são algumas das observações críticas que podemos fazer ao sistema Transmilenio de Bogotá e que queremos compartilhar com os companheiros e companheiras libertários de Joinville (Brasil), os quais tem realizado importantes lutas por um sistema de transporte mais justo, público, gratuito e inclusivo para o total da população.



Bogotá, 21 de abril de 2010

Centro de Investigación Libertaria y Educación Popular - CILEP**

* O Pró-CAO estabeleceu contato com o Centro de Investigación Libertaria y Educación Popular, da Colômbia, que possibilitou o conhecimento inicial sobre o transporte coletivo realizado em Bogotá. Os empresários da Gidion e Transtusa ao lado da Prefeitura Municipal de Joinville estão fazendo a defesa do modelo da “Transmilenio”. A publicação de relato é uma contribuição com a luta por um transporte público, grautito e de qualidade. Leia nossa Carta Aberta sobre o aumento da tarifa de ônibus.

** El CILEP (Centro de Investigación Libertaria y Educación Popular) es un proyecto que, a través de la investigación militante y la educación popular, pretende ofrecer herramientas de análisis y comprensión de nuestra realidad para impulsar y potenciar formas organizativas libertarias en el país. www.cilep.net


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